A partir da segunda etapa da Revolução Industrial, em meados do século XX, o acesso à informação e aos bens de consumo possibilitou que a sociedade começasse progressivamente a mudar. Nesse contexto de transformação capitalista, a vida cotidiana foi fortemente afetada em seus hábitos e costumes.
Há pouco mais de 40 anos, o amor fluía em águas mais lentas. Para que ele se inscrevesse no tempo, era preciso não abrir mão da alteridade, sustentar a diferença, ser dois.
Amar é perder. Se me entrego, a-rrisco. Quem a-rrisca perder?
Vai longe o tempo em que ainda podia haver entrega e que amar era um risco que valia a pena correr. Na contemporaneidade, o amor se tornou um jogo no qual todos querem sair vencedores.
É preciso vencer, renovar, consumir, jamais deixando as portas fechadas a novas relações, todas consumidas em ritmo voraz.
Para Zygmunt Bauman, o amor atual é produto de um individualismo exacerbado. Há redes nas quais as pessoas não se relacionam, estão conectadas, e delas podem ser desligadas ou desligar-se a qualquer sinal de tédio. A única maneira de se manter ativo nas relações amorosas é mantê-las constantemente renovadas.
Para essas relações próprias para o consumo, Bauman cunhou o termo ‘amor líquido’, cuja característica marcante é a fugacidade e a superficialidade.
Regendo essa orquestra de amores descartáveis surgem as pegadas do discurso do capitalista.
O PowerPoint feito para esta apresentação pode ser visto, separadamente do vídeo, no link abaixo
Apresentado no III Seminário Preparatório VI Jornada | Movimento Psicanalítico Sul Catarinense | 10/7/2021
Por Helena de Castro Affonso
Psicanalista. Membro da Escola Lacaniana de Psicanálise do Rio de Janeiro. Graduação PUC-RS, 1979.
Referências
O mal-estar na civilização | Freud (1930)
Amor líquido: sobre as fragilidades dos laços amorosos | Zygmunt Bauman
Mundo em descontrole: o que a globalização está fazendo de nós | Anthony Giddens
Vaidade no Feminino | Elisabeth Bittencourt
Os discursos e a cura | Isidoro Vegh