Efeitos de uma escrita
Escrevo para responder à estranheza de estar vivo.
Moacir Scliar
Em psicanálise aprendemos que escrever é morrer um pouco, é poder dizer, mas não tudo, porque escrever é perder.
Lacan trouxe a noção de perda e de resto presentes no ato de escrever; a condição de estrangeiro daquele que escreve. A escrita porta em si uma condição de exílio daquele que escreve, trazendo em seu centro a dimensão de perda e de destituição subjetiva.
Que efeitos pode colher aquele que escreve sobre o não vivido?
Como é roteirizar um filme, que quase sempre ao longo da produção vai mudando, mudando, e quando chega à tela já é outro filme?
Criadora do roteiro inicial do documentário Só Depois, sobre a trajetória de José Nazar na psicanálise, Renata Amato viveu em si mesma os efeitos de contar uma história na qual navegou como estrangeira.
Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranquila de sua noite: “Sou mesmo forçado a escrever?”. Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa com um forte e simples “sou”, então construa sua vida de acordo com esta necessidade.
Rainer Maria Rilke, Cartas a um Jovem Poeta
Conversa de Analista | 30 de outubro de 2020
Com Renata Amato
Roteirista. Psicanalista. Membro da Escola Lacaniana de Psicanálise-RJ. Roteirista do filme Só Depois.
Referências
- O que é um autor? | Michel Foucault
- Estudos sobre a histeria | Freud (1893-1895)
- Escritos | Lacan
- Filme Só Depois
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