Continuação de: Porque a guerra | Parte 2: A resposta de Freud para Einstein
Porque a guerra | Parte 3: A razão entre Eros e Thanatos
A força coercitiva da violência e os vínculos emocionais (identificações) são as duas únicas possibilidades de manter uma comunidade unida, escreve Freud para seu interlocutor, Einstein.
A seguir, Freud apresenta a Einstein as pulsões. “Os homens estão sujeitos a dois tipos de instintos pulsionais: aqueles que tendem a preservar e a unir — que denominamos ‘eróticos’, no mesmo sentido em que Platão usa a palavra ‘Eros’ em seu Symposium, ou ‘sexuais’, com uma deliberada ampliação da concepção popular de ‘sexualidade’ — e aqueles que tendem a destruir e matar, os quais agrupamos como instinto agressivo ou destrutivo. Em outras palavras. Trata-se aqui da oposição entre amor e ódio.”
Nesse ponto, Freud enfatiza que não se trata de um juízo ético que opõe o bem e o mal, uma vez que nenhum desses instintos é menos essencial do que o outro: “Os fenômenos da vida surgem da ação confluente ou mutuamente contrária de ambos”. Eros e Thanatos representam respectivamente o erotismo do amor e da sexualidade e o ódio e a violência que podem atuar contra o próprio ser, e essas duas representações não operam isoladamente
Para exemplificar, Freud cita que o instinto de autopreservação, de natureza erótica, porta algo da agressividade que possa colocá-lo em movimento em direção ao seu objetivo.
Se o desejo de aderir à guerra é um efeito do instinto destrutivo, a recomendação mais evidente será contrapor-lhe o seu antagonista, Eros.
Tudo o que favorece o estreitamento dos vínculos emocionais entre os homens deve atuar contra a guerra, vínculos esses que podem ser de dois tipos: o amor e, o outro, o que utiliza a identificação. “Tudo o que leva os homens a compartilhar de interesses importantes produz essa comunhão de sentimento, essas identificações.”
Porém, em cenários nos quais vigorem o autoritarismo de Estado e limitações que religiões ocasionalmente impõem à liberdade de expressão, o estabelecimento de laços amorosos e identificatórios é dificultado. Freud argumenta que somente o submetimento da vida instintual ao domínio da razão poderia minimizar os danos causados pelos dois agentes citados.
Freud encerra sua mensagem para Einstein com uma nota otimista: “Enquanto aguardamos a paz, temos o direito de nos dizer: tudo o que estimula o desenvolvimento cultural também trabalha contra a guerra.”